Até pouco tempo atrás, era da tradição cultural do Brasil a discussão sobre futebol em espaços privados ou públicos, em especial em ano de Copa do Mundo, em que o interesse pelo futebol envolvia a todos como o assunto principal a debater. Mas o que terá feito mudar sensivelmente essa nossa tradição cultural, agora que a política tornou-se o assunto do dia-a-dia das pessoas em geral, dos mais ricos aos mais pobres, envolvidos todos em temas algo abstratos como são os que dizem respeito a conceitos desenvolvidos pela Filosofia Política, caso dos conceitos de “direita”,  “esquerda”, “capitalismo”, “comunismo”.

Temas que se tornaram populares em nossa vida diária e que passaram a constituir a preocupação de psicólogos e psiquiatras no Brasil, como afirma o jornal “O Globo” em sua edição impressa de hoje. O divã tornou-se, segundo o referido jornal, um “divã eleitoral”, tantas são as pessoas que vão aos consultórios em busca de mecanismos pelos quais possam assimilar melhor as divergências políticas com familiares e amigos. A noticia não muito agradável que os pacientes podem ouvir dos psicólogos e psiquiatras é a de que não existe ainda uma terapia capaz de resolver os problemas políticos do Brasil.

Devemos compreender que estamos diante de um fenômeno novo e que  tem origem no momento em que os eleitores transformaram-se em consumidores, e em consumidores individualizados, para os quais a regra é “faça-você-mesmo”, como observa ZYGMUNT BAUMAN em “Modernidade Líquida”. É a razão pela qual os eleitores passaram a assumir  um comportamento ativo e que se caracteriza na vontade de querer de alguma forma ter o controle das escolhas das mercadorias que lhe são oferecidas, e dentre essas mercadorias está o serviço prestado pelos políticos, de maneira que o eleitor-consumidor quer escolher o melhor produto disponível, e não quer deixar para outros o direito da escolha. Os conflitos surgem exatamente no campo dessas escolhas, mais precisamente no falar delas.

Em especial ao Direito cabe compreender que se trata de um fenômeno social que veio para ficar como uma característica de nossa era, e que projeta importantes efeitos sobre a liberdade de manifestação, da qual os consumidores não mais abrem mão. O conteúdo e o alcance desse direito fundamental – o direito à liberdade de manifestação – reclama uma interpretação condizente com uma sociedade de consumidores individualizados.

 

 

 

 

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