O caderno “Ilustríssima”, da Folha de São Paulo, edição de hoje, traz um interessante ensaio escrito pelo médico infectologista, ESPER KALLÁS, sob o título “O vírus da hesitação”, em que ele analisa, basicamente sob a perspectiva da Ciência Médica, a necessidade de se colocar um rótulo mais adequado para representar as pessoas que “hesitam” a vacinar-se, as quais nem sempre são ou estão a ser “negacionistas”. Diz o médico e ensaísta que usar indistintamente o rótulo de “negacionista” para com ele abranger todos aqueles que hesitam em vacinar-se constitui um erro, na medida em que não aplica uma necessária diferenciação em face de um amplo espectro de comportamentos.

Esse ensaio nos remete a uma ideia compartilhada por FOUCAULT e BARTHES, de que o Poder não é o que é proíbe, mas o que obriga a falar (FOUCAULT), e que “A censura social não está onde se proíbe, mas onde se obriga a falar” (BARTHES). Com efeito, a nossa sociedade contemporânea obriga as pessoas a firmarem expressamente a sua posição, sob o risco de, em não o fazendo, receberem certos rótulos, que nem sempre, ou quase nunca coincidem com a realidade. Donde surge a imperiosa necessidade de aqueles que “hesitam” (para usar a nomenclatura de KALLÁS no ensaio em questão) em vacinar-se digam que hesitam, mas que não estão a negar a ciência e sua utilidade, de modo que o Poder (não apenas o social) obriga-os a esclarecem a razão pela qual recusam a vacina para a “Covid”, porque se não o fazem, são tachados como “negacionistas”. A censura social, como diz BARTHES, não proíbe, senão que exige que essas pessoas falem que hesitam, para que não se os tomem como negacionistas, quando não o são.

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