Fundada em 1897, a “Casa de Machado de Assis” – a Academia Brasileira de Letras – ABL, enfrenta agora seu maio desafio, e isso depois de em sua longa trajetória ter vivido grandes dilemas, como, por exemplo, quando se pensou em transferir sua sede para Brasília, o que encontrou heroica resistência de seu maior presidente de todos os tempos, Austregésilo de Athayde, e graças a essa resistência pode manter até hoje seu prestígio. O declínio na qualidade de seus integrantes, acerca do que escreveu o imortal HUMBERTO DE CAMPOS, também constituiu sempre um grande problema enfrentado pela ABL, mas que com o tempo tornou-se um problema menor, paradoxalmente quando o número daqueles imortais que ali não deveriam estar aumentou em número considerável.

Mas nenhum desafio é tão grande do aquele que está por vir, e que chega exatamente agora, quando em novembro próximo instalar-se-á a “Academia Brasileira de Cultura – ABC”, que pretende reunir quarenta e cinco confrades (em vez de 40 como se dá na ABL, que seguiu os moldes da Academia Francesa, e sem denominar seus integrantes como “imortais”), os quais, eleitos, passarão a integrar essa associação de cultura, que surge com grande alarde.

A ABL terá assim uma instituição rival, com a qual terá que dividir suas atribuições, funções e prestígio, e isso pode resultar, andando o tempo, com a possibilidade de ambas sucumbirem, pela falta não de prestígio, mas da falta de reconhecimento.

De qualquer modo, a nova academia incorpora da ABL duas ideias: a de que os acadêmicos reúnam-se periodicamente e que esses encontros sejam regados a chá e salgadinhos, e além disso, a de que a ABC tenha entre seus “imortais” quem tenha laços diretos  com a cultura popular, não necessariamente com a Literatura, e muito menos com as obras de Machado de Assis. Assim é que, dentre os acadêmicos já eleitos para a ABC estão Elba Ramalho, Elza Soares e Zeca Pagodinho. Talvez isso explique a eleição, por unanimidade, na ABL da atriz Fernanda Torres.

Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o genial MACHADO escreveu: “Não me ocorre nada que seja assaz fixo nesse mundo: talvez a lua, talvez as pirâmides do Egito, talvez a finada dieta germânica”. De fato, nem a ABL pode aspirar a ser fixa.

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