Poucos são os ensaístas e biógrafos de RUI BARBOSA que ousam criticá-lo. Um deles é R. MAGALHÃES JUNIOR, acadêmico e hoje infelizmente esquecido. Em sua obra, “O Homem e o Mito”, MAGALHÃES JUNIOR aponta, enumera e comenta diversos episódios da vida de RUI, buscando neles encontrar algo que poderia desabonar a vida política e intelectual de RUI.
Um dos temas tratados por MAGALHÃES JUNIOR nessa obra nos é atual, e por isso vale a pena mencionar o episódio, que envolve a vacina obrigatória.
Em 28 de maio de 1919, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, RUI, então com setenta anos de idade, profere uma longa conferência sobre o nosso maior sanitarista, OSWALDO CRUZ, elogiando-o sobretudo na luta travada contra a febre amarela e a malária.
Mas o leitor vai surpreender-se, ao saber que já tínhamos entre nós espécimes de “negacionistas”, pois que OSWALDO CRUZ enfrentava uma grande revolta de parte daqueles que defendiam que a vacina contra a varíola não fosse obrigatória. Importante registrar que o governo de RODRIGUES ALVES apoiara a ideia de OSWALDO CRUZ, defendendo, pois, a obrigatoriedade da vacina, o que desencadeou um protesto com dimensão nacional.
RUI, para aumentar a surpresa do leitor, posicionou-se contra a obrigatoriedade da vacina, como cuidou observar em seu discurso de dezembro de 1904. RUI afirmava que a liberdade individual deveria prevalecer, no contexto do que afirmou: “A lei da vacina obrigatória é letra morta. O seu próprio iniciador nesta Capital o confessou. Não há regulamentos que lhe salvem as ruínas”.
A obrigatoriedade da vacina havia mesmo se tornado uma medida impopular, e RUI, endossando esse movimento, colocava em dúvida a ciência: “Duvidosa pende, ainda, a verdade científica. Mas, por isso mesmo, quanto à verdade jurídica não pode haver dúvida alguma. Assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme. Uma envolve a região moral do pensamento. Outra a região fisiológica do organismo. Dessas duas regiões se forma o domínio impenetrável da nossa personalidade. Até aqui, até à pele que nos reveste, não pode chegar a ação do Estado. (…)”.
Mas RUI viria a abjurar, para defender que a vacina se tornasse uma medida que o Poder Público poderia impor.
Quem quiser conhecer de outros episódios menos conhecidos da vida de RUI (porque em geral não citados por seus biógrafos), poderá ler a obra de MAGALHÃES JUNIOR, “O Homem e o Mito”, hoje infelizmente encontrada apenas em alfarrábios.