Um professor brasileiro, que também é escritor e tradutor, vem de afirmar que, no Brasil, fala-se uma língua portuguesa que o nosso país moldou à sua imagem, e que por isso se há concluir que, no Brasil, não se fala um “português errado”, mas um outro “português”, cujas regras gramaticais e outras estão a ser adaptadas conforme os nossos costumes e cultura. Com pompa, disse o professor: “Só agora se começa a perceber que não estamos falando incompetentemente a língua da Europa, porque não há português errado nem português certo, nem nas variedades que existem no Brasil nem nas inúmeras variedades que existem em Portugal”.

A prevalecer essa curiosa tese, escusar-se-íamos dos inúmeros erros que estamos a praticar, bastando que aleguemos que estamos a falar um “português” que se tornou nosso, propriedade nossa, o que nos dá a liberdade de acreditarmos certo o que os manuais de gramática e os clássicos escritores, inclusive os nossos, afirmam que está errado. Segundo o professor, não há regras para a Língua Portuguesa, ou quando menos há as nossas – e essas que valem.

De maneira que não teríamos mais qualquer critério seguro para aferir se um escritor escreve em bom português, e a rigor nem mesmo podemos saber se ele escreveu em português, ou nalguma língua que ele próprio terá criado, tantas são, segundo o ilustre professor, as variantes locais.

Ao tempo em que havia no Brasil competentes críticos em literatura, ao tempo, pois,  de um AUGUSTO MEYER, ou, em Portugal, quando ali havia um LUÍS DE MAGALHAES, a quem EÇA DE QUEIROZ instava a que assumisse esse posto (“e já a rapaziada não escrevia essas prosas reles …”), havia então critérios objetivos e seguros com base no que se podia avaliar se um escritor escrevia bem ou não, seja quanto ao estilo, seja quanto ao domínio da língua portuguesa. E tão certo quanto afirmar que aquela geração de zelosos críticos passou,  também  se deve reconhecer que, com a nova geração de professores da Língua Portuguesa que defendem a abstrusa tese de que não há critérios, estaremos agora no pior dos mundos, em que não nos é dado ter a certeza de que estaremos a escrever, ou apenas a garatujar.

 

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