Sabem os leitores da importância do episódio da madeleine na estrutura de “Em Busca do Tempo Perdido”, de que PROUST engenhosamente se utiliza para revelar o processo que envolve a memória involuntária, de uma memória que, baseada no acaso, faz evocar uma revelação de algo que até ali estava envolto na confusão que forma o material de que é composta a memória, como se um sabor (da madeleine) pudesse involuntariamente desencadear a descoberta, fazendo evocar um passado e o reconstruindo em sua essência.
Até aqui os leitores não sabiam como PROUST criara o episódio da madeleine. Parecia-se-lhes que essa descoberta havia sido tão involuntária quanto o evocar da própria memória.
Mas com o acesso aos manuscritos e documentos de variegada natureza (cartas, poemas, desenhos e artigos) que compõem o espólio de PROUST, e que foram colocados à venda em um leilão pelos herdeiros de uma sobrinha do famoso autor francês, revelou-se a verdade.
A princípio, PROUST havia pensado em um pão duro, depois em um pão torrado, chegando a cogitar de se utilizar da figura de um biscoito, para, então, fixar-se na madeleine como aquilo que lhe teria permitido evocar involuntariamente a memória.
Para quem tiver lido a correspondência de PROUST, não chegará a ser surpresa esse método de criação. Há muito pouco de involuntário no processo de escrita de PROUST, começando pelos personagens, muitos dos quais representam o resultado de uma combinação entre características presentes em mais de uma pessoa real.