Houve uma época áurea do fotojornalismo brasileiro, em que o leitor de jornais e revistas podia  conhecer a realidade para além daquilo que essa mesma realidade lhe poderia fornecer apenas pelo contato direto. EVANDRO TEIXEIRA, falecido ontem aos 88 anos, um de nossos maiores fotógrafos, era daquela época, que  DRUMOND, em forma de poesia, assim retratou, falando do mestre EVANDRO:

“É preciso que a lente mágica / enriqueça a visão humana/ e do real de cada coisa / um mais seco real extraia / para que penetremos fundo / no puro enigma das figuras”.

Chegando ao Rio de Janeiro em 1957, iniciando-se então no jornalismo, EVANDRO começou trabalhar no Jornal do Brasil a partir de 1963, e logo no ano seguinte pudera captar com a sua fina sensibilidade o que era então a realidade da ditadura militar para além daquilo que os militares queriam mostrar à opinião pública. EVANDRO, por meio de sua fotografia, levava ao leitor o conhecimento dessa outra realidade:

Fotografia – o codinome / da mais aguda percepção / que a nós mesmos nos vais mostrando / e da evanescência de tudo / edifica uma permanência / cristal do tempo no papel”  – como escreveu DRUMOND.

E o que é mais curioso é que, com o passar do tempo, as fotografias de EVANDRO, em especial aquelas que retrataram o sombrio tempo da ditadura militar, ganham um maior relevo, como se as imagens que ele captou por meio das lentes de sua máquina estivessem ainda hoje a se mover em busca de outros significados, ampliando ainda mais a realidade em busca de novos leitores, como DRUMOND terá com sua argúcia percebido que ocorreria:

Das lutas de rua no Rio / em 68, que nos resta / mais positivo, mais queimante / do que as fotos acusadoras, / tão vivas hoje como então, / a lembrar como a exorcizar”. 

 

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