Houve um tempo em que tínhamos  o jornal vespertino, cuja finalidade era a de atualizar o leitor em face daquilo que o jornal matutino havia informado. O Jornal da Tarde, criado em 1966, pelo grupo Estado de São Paulo, tinha essa finalidade. E o leitor assim contava com duas fontes diárias de notícia, complementadas pelo noticiário da televisão. A impressão que o leitor tinha era a de que as notícias não andavam tão rapidamente, porque era algo comum que as notícias que o jornal matutino eram praticamente as mesmas que o jornal vespertino publicava, talvez com algum aprofundamento. A vida  certamente corria mais lentamente, e o leitor dispunha de tempo para digerir as notícias – que não mudavam. O que mudou foram os jornais vespertinos, que desapareceram.

Agora os tempos são outros. As notícias são atualizadas de minuto a minuto, senão que em segundos em sites de notícias. E o leitor, atônito, depara-se com uma notícia atrás de outra, em que não é raro que uma notícia diga exatamente o contrário do que a notícia anterior informava. Uma mixórdia. Basta que o leitor atualize as páginas de seu aparelho celular, e pronto a notícia já é outra. Mas, diante dessa avalanche de atualizações, o que acontece com o leitor?

Evidentemente que isso tem um preço, que é o não de haver mais tempo para que o leitor possa refletir sobre o que leu.  E isso impacta a nossa capacidade de compreensão, reduzindo-a na mesma proporção em que os textos devem ser cada vez mais curtos. Somos obrigados a seguir rumo à próxima notícia, sob o risco de experimentarmos a sensação de que perdemos algo. Ficamos desatualizados. Não ficamos a saber, por exemplo, de que uma importante personagem (uma “influencer”) separou-se de seu marido, e somos tentados a imaginar que essa separação ocorreu no intervalo entre uma notícia e outra, porque na primeira notícia eles ainda estavam casados. Ou que o governo desistiu de criar um imposto, quando, segundo atrás, o mesmo governo havia criado esse imposto.

Aquele antigo leitor de notícias não existe mais. Agora se trata de um herói.

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