Sim, os direitos da classe média estão sob risco no Brasil, segundo o que se afirma, peremptoriamente, em um alentado documento de quatro páginas e inacreditavelmente subscrito por movimentos populares, organizações sociais e sindicatos, que, dirigindo-se ao Congresso Nacional, revelam uma “profunda preocupação” com as mudanças que estão em discussão e que envolvem a reforma do imposto de renda. Dentre os signatários desse inestimável documento, está inclusive uma ONG que invoca a sua condição de atuante contra a desigualdade no Brasil, fazendo-nos concluir que essa desigualdade existe, já que há uma ONG que atua contra ela.
De acordo com os signatários, se o projeto de reforma do imposto vingar, especialmente com a tributação das altas rendas, as garantias sociais e os direitos da classe média estarão colocados sob risco. Embora não se fique a saber o que são essas garantias sociais, nem que direitos da classe média podem ser afetados, e mais ainda, de que classe média se trata, não há dúvida de que o caso é preocupante.
E o mais preocupante de tudo está no fato de que as entidades que assinam o documento não parecem representar os interesses das “altas classes”, senão que precisamente daqueles que, não estando nessas altas classes, poderão ser beneficiados pela reforma do imposto de renda, se ele efetivamente alcançar as tais altas classes, que, em possuindo altas rendas, têm o receio de que acabem por pagar o pato, digo, a conta.
Talvez porque provém precisamente de entidades que nunca se poderia imaginar manifestassem esse tipo de preocupação, é que o Congresso Nacional, sensibilizado, prontamente recebeu o documento, assegurando que nada poderá ser decidido sem antes fazer instalar um “debate equilibrado” sobre o tema, em que certamente se reservará um espaço nessas profundas discussões a preocupação que a classe média está a demonstrar em prol das altas classes, algo jamais visto na história, ou ao menos desde quando se atinou para o fato de que as classes sociais estão em luta.
Mas pelo que dá conta o documento, e pelo adjetivo que o Congresso Nacional adotou ao falar em “debate equilibrado”, pode-se mesmo lobrigar que a luta de classes já está superada na consciência histórica, e que agora em diante as classes alta e média estão a lutar por um objetivo comum, que é o de que o imposto de renda se mantenha como tal, e como desde sempre esteve.