Um jornal deve ou não declarar seu apoio a um candidato? Essa é a questão que está a suscitar discussões acadêmicas e da opinião pública em geral nos Estados Unidos, depois que um importante jornal daquele país declarou, em nota oficial, que não declarará apoio a qualquer dos candidatos na eleição presidencial que ocorrerá na próxima semana. A questão também está a render questionamentos no Brasil, em que se não é comum que os jornais declarem oficialmente que apoiam este ou aquele candidato, fazem-no na maioria das vezes veladamente.
Conquanto pareça evidente que a credibilidade de um jornal está na exata medida em que sua única crença deva ser a verdade da informação, o que significa dizer que o compromisso com a verdade impede o jornal de declarar apoio a um candidato, o fato é que, no Brasil, os grandes jornais alegam existir o direito de, fundado na liberdade de imprensa, conduzir seus leitores àquilo que a esses mesmos jornais se revela o mais adequado, embora não esclareçam aos leitores o que legitimaria esse suposto direito, nem quais são os reais interesses envolvidos.
Nesse contexto, chama a atenção o texto escrito pela ombudsman de um importante jornal de São Paulo e publicado nesta data, comentando quão perigosa é a relação que esse mesmo jornal passou a manter oficialmente com uma entidade criada sob o pretexto de difusão cultural de ideias e de conhecimento, quando se sabe que isso, a difusão de conhecimento, não é nem de longe o que move as entidades que organizam esses eventos. O texto da ombudsman é rico em detalhes e esclarece como surgem e se estruturam as relações entre os jornais e os grupos econômicos e políticos, e como o conteúdo das informações pode ser manipulado segundo os interesses envolvidos.
Mas para além das perigosas relações travadas pelos jornais com esses grupos econômicos e políticos, está a indevida participação de autoridades brasileiras em eventos cujo único objetivo é a de proteção aos interesses das empresas que organizam esses eventos e de seus patrocinadores, em que a preocupação com a questão cultural é apenas uma fachada.