Houve um tempo, não muito distante, em que era algo natural que os filhos dos juízes se tornassem juízes, beneficiando-se de um direito de dinastia que parecia normal. Em diversos concursos para a magistratura estadual, o número de filhos de juízes que eram aprovados chegava a ser impressionante a ponto mesmo de um conhecido senador ter dito na comissão de reforma do Poder Judiciário que em seu Estado metade dos juízes aprovados era filho de juízes do mesmo Tribunal.
Mas como observou MACHADO DE ASSIS, nada é fixo neste mundo, e aquele fenômeno também não existe mais. Hoje, os filhos de juízes não se tornam juízes, mas advogados. A razão dessa mudança terá sido provavelmente uma maior fiscalização nos concursos públicos para a magistratura. Mas não convém aqui avançar sobre esse tema.
O que importa considerar é que esse novo fenômeno aparece no episódio envolvendo as vendas de sentenças judiciais, porque as investigações conduzidas pela Polícia Federal estão a revelar que filhos de juízes, que são advogados, participaram desse esquema, o que vem a provar a força de adaptação do ser humano em face das dificuldades. Se agora é mais difícil um filho de juiz se tornar juiz, então o caso é ser advogado, e atuar em parceria com o pai, o que não deixa de ser uma outra faceta daquela dinastia.