Venturosos os raríssimos escritores que conseguem a façanha de terem seus personagens incorporados aos dicionários, tornando-se adjetivos ou substantivos. É o que ocorre com o genial EÇA DE QUEIROZ com seu “acaciano”, adjetivo que, segundo o Dicionário Houaiss, significa “que ou quem se mostra afetado, ridículo pelo uso das fórmulas convencionais ou pela maneira pomposa de ser”. O Conselho Acácio, personagem de “O Primo Basílio”, de EÇA, torna-se assim redivivo.

O mesmo ocorre com o escritor francês, FLAUBERT e sua heroína Emma Bovary, fazendo surgir o termo “bovarismo”, denominando o fenômeno pelo qual certos indivíduos  apresentam a tendência a fugirem da realidade. Donde o substantivo “bovarismo”, e o adjetivo “bovarista”.

Um outro genial escritor, este brasileiro, LIMA BARRETO, escreveu um delicioso texto falando dos “casos de Bovarismo”, para se referir ao fenômeno que lhe parecia ser algo corriqueiro em certos funcionários públicos:

“H, velho funcionário público, com tantos e tantos anos de serviço, sem uma licença, está atingido de bovarismo. Aquele contato diário com a pena e tinteiro; o constante elogio dos diretores pela sua caligrafia, pelos seus ofícios, despertaram-lhe n’alma uma curiosa imagem. Acreditou-se escritor, literato; e o humilde escriba para quem o talhe da letra era a única preocupação, pôs-se febrilmente a escrever versos, romances, contos e, há dias – coitado! – veio me dizer:

– Você sabe? Tenho uma grande obra.

Qual é?

A Comédia do Pó.

É melhor do que a Divina Comédia e um pouco superior ao Dom Quixote”.


Como são “bovaristas” os operadores do Direito, que se sentem todos juristas, como ocorre de modo particular com os civilistas, que, por terem escrito medíocres páginas,  sentem-se superiores a RUI BARBOSA, PONTES DE MIRANDA, e começam, para infortúnio dos leitores, a escreverem cada vez mais, e a pensarem até a escreverem um Código, como fizera o mestre CLÓVIS BEVILAQUA.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here