Tivessem tido os cientistas políticos e os historiadores tão fácil acesso como dispomos hoje de imagens, capturadas pelo onipresente telefone celular, e certamente a Ciência Política e a Historia teriam uma trajetória muito diferente. Talvez não ficassem  os cientistas políticos e os historiadores a debaterem ainda hoje o que efetivamente deu causa à Revolução de 1930 no Brasil, se, como pensa BORIS FAUSTO, tratou-se de uma revolução causada pelas oligarquias regionais, ou se, como diz, THOMAS SKIDMORE, aquela revolução teria sido o resultado de graves conflitos sociais e de variegada natureza, em face dos quais as Forças Armadas viriam a assumir o papel de árbitros finais da política interna, decidindo pela revolução.

Hoje, dispomos de imagens (fotografias e vídeos) que, capturadas por diversos aparelhos celulares, reproduzem inúmeros ângulos, de maneira a formarem um mosaico que retrata algo muito próximo da verdade, supondo-se que a verdade possa ser capturada em toda a sua inteireza. O episódio de nossa recentíssima história, ocorrido em 8 de janeiro deste ano, por exemplo, foi capturado ao mesmo tempo por inúmeras pessoas, muitas das quais presentes ao ato, além de imagens ditas oficiais, que são aquelas capturadas pelas câmeras instaladas no prédio público.

Pelas imagens podemos ver,  acompanhar e detalhar toda a sequência do que aconteceu. As imagens nos tornam não apenas espectadores, mas como partícipes da ação. Assumimos quase que o papel de referente daquelas imagens, porque a impressão que nos fica é que um fotógrafo ou “videomaker” estava ali a nosso dispor, fazendo imagens para nosso consumo.

É certo que dispomos de uma boa coleção de imagens capturadas durante o Golpe Militar de 1964, graças a fotógrafos como EVANDRO TEIXEIRA. Mas se compararmos a quantidade daquele material com o que dispomos hoje, veremos a importância do aparelho celular, tantas são as imagens, fotografias e vídeos, a que temos agora acesso.

Mas devemos ter presente uma advertência  que nos vem dos estudiosos da Linguagem Fotográfica, de que a fotografia não capta o real, senão que capta apenas uma parcial visão daquele que fotografa, e em muitos casos nem mesmo isso. Aliás, o desenvolvimento do estudo na área da Filosofia acerca do “Referente” na Fotografia mostrou que, em muitas imagens, o referente ali não está, nem pode estar.  A propósito, ROLAND BARTHES sempre mencionava uma cena  com seu amigo, UMBERTO ECO, em que o famoso escritor italiano, durante um jantar na casa de BARTHES, de inopino abaixara-se, olhando para o chão e para os pés de BARTHES e dos demais convidados, quando a esposa de ECO perguntou-lhe o que ele fazia, ao que ECO respondeu que estava a procurar o “referente”, e que não o encontrava.

E nós o conseguimos encontrar, tantas são as imagens que nos saturam?

 

 

 

 

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