Em que consiste a unidade de “Em a Busca do Tempo Perdido”? Na memória, como afirma a grande maioridade dos especialistas em PROUST? Essa é a principal questão a que se propõe resolver o filósofo francês, GILLES DELEUZE, “Proust e os Signos”, que, para surpresa do leitor, afirma logo no início desse importante livro:

É certo que a memória intervém como um meio da busca, mas não é o meio mais profundo; e o tempo passado intervém como uma estrutura do tempo, mas não é a estrutura mais profunda. Os campanários de Martin-ville e a pequena frase musical de Vinteuil, que não trazem à memória nenhuma lembrança, nenhuma ressureição do passado, têm, para Proust, muito mais importância do que a madeleine e o calçamento de Veneza, que dependem da memória, e, por isso, remetem ainda a uma ‘explicação material”.

Segundo DELEUZE, “Em Busca do Tempo Perdido” é um livro de formação, do relato um aprendizado: do aprendizado de um homem de letras. Seria, portanto, um “Bildungsroman”, como os alemães denominam um romance de formação, que tem em seu núcleo a narrativa de como o personagem principal desenvolve-se ao longo do tempo através das experiências com as quais lida e que vão sendo relevadas como experiências abertas à interpretação do leitor, como é exemplo o livro “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister”, de GOETHE, e “A Montanha Mágica”, de PAUL THOMAS MANN.

Justifica DELEUZE sua ideia: “(…) A recherche é voltada para o futuro e não para o passado. (…) Aprender diz respeito essencialmente aos signos. Os signos são objeto de um aprendizado temporal, não de um saber abstrato. Aprender é, de início, considerar uma matéria, um objeto, um ser, como se emitissem signos a serem decifrados, interpretados. (…). A obra de Proust é baseada, não na exposição da memória, mas no aprendizado dos signos”.

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