“A verdade, porém, é que não nos afligimos mais por nos termos tornado outros, em virtude da passagem do tempo e pela ordem natural da coisas, do que nos afligiríamos em determinada época por sermos, alternadamente, sujeitos contraditórios – perverso, delicado, sensível, grosseiro, desinteressado, ambicioso, como, alternadamente, somos a cada dia. E a razão pela qual não nos afligimos é a mesma: o ‘eu’ eclipsado – momentaneamente no último caso, quando se trata do caráter, ou para sempre, no primeiro caso, quando se trata de paixões – não está presente para deplorar o outro, esse outro que, neste momento mesmo, ou daí por diante, é todo nós; o grosseiro sorri de sua grosseria, porque é grosseiro, e o esquecido não se entristece com a falta de memória, precisamente porque esqueceu”. (MARCEL PROUST, A Fugitiva, Em Busca do Tempo Perdido).

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