O jornal “Folha de São Paulo”, edição de hoje, traz um ensaio escrito por FELIPE FRELLER sobre o sociólogo e filósofo, RAYMOND ARON, nascido em Paris em 1905 e  falecido em 17 de outubro de 1983, e nesse artigo, FRELLER, que é doutor em ciência política,  refere-se de passagem a alguns dos temas sobre os quais escreveu ARON em diversos livros, como naquele que é o mais conhecido, o “Ópio dos Intelectuais”, que é de 1955.

Mas ainda que se considere o que é próprio a ensaios publicados para jornais, estranhamente FRELLER não se refere em seu  texto às “Memórias” de ARON, livro  escrito por ARON e publicado no mesmo ano em que ele faleceu, e que é de fundamental importância ao leitor para compreender todo o percurso de ARON e como as suas ideias se desenvolveram ao longo de todo esse tempo, partindo do estudo do marxismo, que, como ARON cuidou sublinhar no livro que dedicou a MARX (“O Marxismo de Marx”), consumiu-lhe mais de trinta anos de atenta leitura, até encontrar em um determinado modelo de liberalismo a sua forma final de pensar a sociedade em sua relação com o poder. Aliás, em maio de 1977, quando ministrava o curso “O Marxismo de Marx” no Collège de France, ARON sofrera um embolia, perdendo a fala e a escrita, submetendo-se a um longo tratamento, recuperando em parte sua saúde, o que lhe deu tempo para meditar sobre o que tinha sido a sua vida, escrevendo, como último parágrafo de suas “Memórias”, algo melancolicamente, o seguinte:

Não queria terminar esta retrospectiva demasiado longa com reflexões sobre a História-em-processo. Por definição, ela prossegue; o ponto onde se detém nada significa em si para mim nem para os outros. Minha atividade profissional não preencheu minha vida, nem os artigos, os livros, o ensino. A minha mulher, a meus filhos, a meus netos, a meus amigos devo ter vivido meu ‘adiamento’ desde 1977, não em angústia, mas na seriedade. Graças a eles, aceito a morte – é fácil -, mas antes dela as sequelas da embolia e os achaques da idade – o que é mais penoso. Lembro-me de uma expressão que empregava às vezes quando tinha vinte anos, nas conversas com colegas e comigo mesmo: ‘fazer sua salvação laica’. Com ou sem Deus, ninguém sabe, no fim da vida, se está salvo ou perdido. Graças a eles, de que falei tão pouco e que me deram tanto, rememoro esta frase sem temor nem tremor “

A propósito, FRELLER também não menciona o livro “O Marxismo de Marx”, cuja leitura, tanto quanto o das “Memórias”, permitirá ao leitor a compreensão de como ARON pensava seu “liberalismo”, que não é bem o que FRELLER afirma algo superficialmente em seu texto. (Ambos os livros contam com tradução para a Língua Portuguesa.)

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