Há profissões que o Direito, somente ele, poderia criar, e mais,  somente o Brasil  poderia fazê-las ainda  melhor do que são. É o caso do “consultor jurídico”. Mas o que vem a ser essa insólita figura?

É aquele que, embora tenha algum conhecimento jurídico, não precisa desse conhecimento, bastando que saiba consultar a quem pode saber da solução de um problema. Ele mesmo, o consultor jurídico, não sabe, mas sabe a quem procurar, e são as suas preciosas relações com a gente do poder que lhe confere um especial talento, de que se utilizam aqueles que  precisam de uma ajuda daquele que pode decidir.

Evidentemente que os que tomam os serviços de um consultor jurídico não confiam muito em que tenham razão naquilo que defendem, e  exatamente por não terem essa confiança é que precisam de quem os possa ajudar.

Há, entretanto, uma variedade de consultores jurídicos conforme o grau de relações que cada qual mantém com a gente do poder. Claro está que o preço é cobrado conforme o grau dessas relações: quanto maior a proximidade do consultor jurídico com o poder, maior o preço de seus honorários.

E onde se forma o consultor jurídico? Precisamente na estrutura do poder, cujas entranhas ele prima por conhecer bem enquanto está do lado de lá (do lado do poder), porque esse conhecimento é ouro, e ele o saberá vender bem quando se tornar um consultor jurídico de respeito, quando poderá vender seu conhecimento a quem dele necessitar – e que puder pagar bem, obviamente.

Alguém poderia dizer que um consultor jurídico parecerá com um lobista, mas nada mais desagradável a um verdadeiro consultor jurídico do que ouvir essa comparação. Dirá ele que um consultor jurídico é um consultor jurídico, enquanto um lobista, ah, um lobista é apenas uma espécie de despachante, a quem se busca quando se precisa de alguém que tenha que levar ao poder a proteção de um determinado interesse. Um consultor jurídico não faz esse prosaico papel. Ele exerce um trabalho mais requintado, porque revela a seu cliente como é a estrutura do poder por dentro, quem a ocupa, quem decide e como decide. E está aí o valor de sua atuação, a justificar o alto preço que cobra, muitas vezes não necessariamente em dinheiro.

É injusto dizer-se que o Direito protege os mais fortes: eles se protegem mesmo sem o Direito, cujo papel é apenas fazer parecer racional e justo aquilo que não é. O consultor jurídico atua exatamente nesse contexto.

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