Em agosto de 1889, iniciava o escritor português, FIALHO D’ALMEIDA, a publicação em coluna de jornal do que ele denominou de “um inquérito à vida portuguesa”, em que tomava determinados fatos de sua realidade, fazendo deles uma deliciosa crônica, em um estilo que lembra o do nosso MACHADO DE ASSIS cronista. FIALHO escolheu o título de sua coluna: “Os Gatos”, e cuidou explicar a razão disso.

“Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. 

Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ron-ron e a garra, a língua espinhosa e a calinerie. Fê-lo nervoso e ágil, refletido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até a tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários. Um pouco lambareiro talvez perante as belas coisas, e um quase nada céptico perante as coisas consagradas; achando a quase todos os deuses pés de barro, ventre de jibóia a quase todos os homens, e quase todos os tribunais, portas travessas. Amigo de fazer jongleries com a primeira bola e papel que alguém lhe atire, ou seja, um poema, ou seja um tratado, um seja um código.  (…)”. 

E por vai o genial FIALHO D’ALMEIDA a explicar a razão pela qual achou conveniente denominar sua coluna de “Os Gatos”, para defender o direito de, miando um pouco, arranhando sempre, e não temendo nunca nas críticas que viria a escrever por um longo do tempo.

Afinal, se RAMALHÃO ORTIGÃO, outro maravilhoso escritor português, companheiro do inolvidável EÇA DE QUEIROZ, se RAMÃLHÃO, pois, escrevias suas “Farpas”, por qual razão FIALHO não poderia fazer das suas como um esperto gato?

 

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