Já citamos aqui uma passagem que está no início do importante livro de GILLES DELEUZE, “Proust e os Signos”, em que o filósofo francês  afirma, ao contrário de boa parte dos especialistas, que não é a memória, nem é o tempo o que há de essencial no livro de PROUST “Em  Busca do Tempo Perdido”. Aqui o trecho em que ele defende com mais consistência essa ousada posição:

O essencial na Recherche não é a memória nem o tempo, mas o signo e a verdade. O essencial não é lembrar-se, mas aprender; porque a memória só vale como uma faculdade capaz de interpretar certos signos e o tempo só vale como a matéria ou o tipo dessa ou daquela verdade. E a lembrança, ora voluntária, ora involuntária, só intervém em momentos precisos do aprendizado, para contrair o efeito ou para abrir novos caminhos. As noções da Recherche são: o signo, o sentido, a essência; a continuidade dos aprendizado e o modo brusco das revelações. Saber que Charlus é homossexual constitui um deslumbramento; mas foi necessária a natureza progressiva e contínua do intérprete, e depois o salto qualitativo em um novo saber, em um novo domínio dos signos. Os leitmotive da Recherche são: eu ainda não sabia; eu compreenderia mais tarde; quando deixava de aprender, eu não me interessava mais. As personagens da Recherche só adquirem importância quando emitem signos a serem decifrados, num ritmo de tempo mais ou menos profundo. A avó, Francisca, a Sra. de Guermantes, Charlus, Albertina só valem pelo que nos ensinam. ‘A alegria com que fiz meu primeiro aprendizado quando Francisca …, ‘com Albertina eu nada mais tinha a aprender …”. 

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