Iniciamos aqui publicações homenageando PROUST, cujo centenário de morte ocorre exatamente neste dia.
Começaremos com uma preciosa dica que o próprio PROUST deu a seus leitores de como ele coletava o material sobre o qual trabalhava, construindo seus personagens. Importante lembrar que há um consenso entre os especialistas em PROUST em reconhecer que seus personagens eram compósitos, no sentido de que eram o resultado de características de mais de uma pessoa, somadas, como sucede em especial com a construção do senhor de CHARLUS e de ROBERT DE SAINT-LOUP. Em “O Tempo Redescoberto”, revela PROUST seu método de trabalho, confirmando o que dizem seus especialistas:
“(…) Por mais que jantasse em sociedade, não vias as pessoas presentes, porque as radiografava quando cria olhá-las. Disso resultava que, reunidas todas as observações por mim feitas num jantar, o desenho das linhas assim traçadas formava um conjunto de leis psicológicas onde quase não figurava, por si mesmo, o sentido das palavras dos convivas. Mas talvez não perdessem por isso todo mérito de meus retratos, já que não os vendia como tais. Se um retrato, em pintura, patentear certas verdades relativas ao volume, à luz, ao movimento, será necessariamente inferior a um outro, em tudo diferente, da mesma pessoa, onde se fixem com minúcia mil pormenores naquele omitidos, permitindo verificar haver sido encantador o modelo, que se diria feio pelo primeiro, circunstância importante para a verdade documental e mesmo histórica, mas não para a da arte?” (PROUST, O Tempo Descoberto, Em Busca do Tempo Perdido).