Aquele que tem o gosto, o hábito e o ofício de escrever preocupa-se sempre com o que o leitor pensará de seu texto. É uma experiência pela qual todo escritor vive a passar, ainda os mais experientes. Recordemo-nos do que sucedeu a PROUST, quando viu estampado no “Le Figaro” seu primeiro artigo impresso em jornal. Essa experiência real está por ele contada com minúcia em “A Busca do Tempo Perdido”, sendo importante observar que PROUST nesse maravilhoso livro justapõe episódios da vida real com outros de pura ficção, moldando os personagens dessa mesma forma compósita.

O trecho em que PROUST narra como vivenciou a leitura de seu primeiro artigo impresso  está em “A Fugitiva”:

(…) Era o meu artigo que enfim aparecera? (…). O que eu tenho em mão, não é um certo exemplar do jornal, é um qualquer entre dez mil, e não somente o que foi escrito para mim,  o que foi escrito para mim e para todos. (…) Mas, antes de tudo, uma primeira inquietação. O leitor não prevenido veria esse artigo? (…). Meu artigo, porém, é tão longo (…). Não adianta saber que muitas pessoas que lerão este artigo o acharão detestável; no momento em que leio, o que eu vejo em cada palavra me parece estar no papel, e não posso crer que cada pessoa, abrindo os olhos, não veja diretamente as imagens que eu vejo, acreditando que o pensamento do autor é diretamente percebido pelo leitor, quando a verdade é que se trata de um outro pensamento fabricado em seu espírito (…)”. 

Daí concluir PROUST, revelando o mistério que envolve a escrita e a leitura:  a maior parte da beleza de um artigo está no espírito dos leitores.

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