Acaba de sair no Brasil, pela tradução do competente ERIC NEPOMUCENO, o livro “Duas Solidões”, que reproduz os diálogos ocorridos em setembro de 1967 na Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional de Engenharia do Peru, envolvendo dois escritores, à altura já famosos: o peruano e anfitrião, MARIO VARGAS LLOSA e o colombiano, GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, que, andando o tempo, viriam a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (GABO, em 1982; VARGAS LLOSA, em 2010).

A Faculdade peruana havia imaginado realizar apenas um evento sob a forma de um diálogo, mas o sucesso de público foi tão grande que fez prorrogar os diálogos, que assim ocuparam dois dias. VARGAS LLOSA, então com trinta e um anos de idade, tinha já um ar professoral e o terno por isso lhe caia bem,  enquanto GABO, já alcançando os quarenta anos de idade,  era o que sempre foi, trajando informalmente à maneira de um cantor caribenho, observa ERIC NEPOMUCENO na introdução a que deu o nome de “Anotações sobre Duas solidões e sua grandeza”.

Uma das várias questões que permearam os diálogos entre os dois geniais escritores, partiu do peruano ao colombiano: “Você, como escritor, serve para quê?, o que foi o mote perfeito para que os dois refletissem e falassem ao público como viam seu ofício. “(…) os dois foram se revelando numa conversa que fluía ora como rio agitado, ora como remanso suave” – anota ERIC NEPOMUCENO.

Essa amizade entre VARGAS LLOSA e GABO começou ali, naqueles diálogos, intensificou-se a partir de 1971 e veio ao fim em 1976, durante um pugilato, do qual GABO saiu com seu olho esquerdo atingido. Não se sabe até hoje qual foi o motivo da briga, mas o fato é que nunca mais se falaram ou se encontraram, e assim foi até a morte de GABO em 2014.

Quiçá o leitor, depois de percorrer as cento e doze páginas de “Duas Solidões”, poderá encontrar alguma pista que o conduza a descobrir, olhando para trás, o que poderá ter causado a ruptura entre os dois grandes escritores, cuja visão de mundo nunca foi a mesma, nem mesmo quando VARGAS LLOSA flertava com a esquerda política, na qual GABO permaneceu para sempre.

A propósito, GABO, talvez lembrando da perguntava que lhe fizera o então amigo, VARGAS LLOSA, escreveu em março de 1983 um crônica a que deu o título “Para que servem os escritores?”, a comprovar que os diálogos de 1967 continuavam a render ideias.

 

 

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