“Já notaram como a miséria interessa e agrada sempre, ao confortado, pelo pitoresco que encerra, pelo que representa como assunto capaz de alegrar-lhe os olhos e o espírito? Nas capas de revistas elegantes, a figura andrajosa de um mendigo deleita, recreia, satisfaz. O turismo de bom-tom, a primeira coisa que deseja visitar numa grande cidade é o bairro da pobreza. (…) O drama do sofrimento alheio assim passa, graças ao seu pitoresco, a ser gozo ao bem-instalado na vida que a frui superiormente, dentro da sua camisa de seda, um bom charuto entre os dedos, repoltreado no mapple confortável. Existe mesmo quem não compreenda o mundo sem essas intensas contradições, necessário como as sombras na natureza, que serve para esquissar a graça dos contrastes, dando nitidez, relevo e corpo aos valores belos, porém, mais ou menos perdidos ou apagados, no imenso claro-escuro das paisagens”. 

(Antes que o leitor chegue à certeza de que o texto acima terá sido escrito por estes dias, tão correspondente é aos nossos tempos,  advirto que se trata de uma passagem do livro “O Rio de Janeiro do Meu Tempo”, que é de 1938, escrito pelo imortal, LUÍS EDMUNDO.)

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