Na década de 1970, a ensaísta norte-americana, SUSAN SONTAG, refletindo sob o papel e o poder da Fotografia sobretudo na imprensa, vaticinou que chegaria um momento em que cada leitor teria seu próprio jornal, de acordo com seus interesses e predileções. Acertou em cheio!

Com efeito, estamos a viver em uma sociedade em que cada um de nós possui um jornal. O que são, afinal, as redes sociais senão que uma espécie de jornal no qual lemos apenas o que nos interessa, as notícias de que gostamos, e convivemos apenas com quem nos dá sempre razão e nunca nos opõe nenhum argumento.

Se considerarmos, por exemplo, o caso do “Telegram”, que permite que se formem grupos privados de até 200.000 pessoas,  sem qualquer filtro que obste a divulgação de informações não comprovadas, perceberemos os perigos com os quais  a sociedade moderna convive, em especial quando se considera a forma pela qual as eleições se realizam segundo as regras do Direito, que, também aqui, corre atrás da realidade, sempre atrasado. Basta, pois, que um candidato, em qualquer país do mundo, consiga reunir um considerável número de “seguidores” em suas redes sociais, tornando-os fieis a suas ideias (que nunca são discutidas nessas redes sociais),  para que consiga de um modo bastante fácil manipular o conteúdo informações que acabam por circular não apenas nessas redes sociais, mas na sociedade como um todo. Ganhará a eleição quem melhor manipular essas informações, portanto.

Com esses “jornais próprios”, perde-se o espaço da discussão pública, o que os gregos chamavam de “ágora”, a princípio como um espaço físico, depois como um espaço artificial, em que o povo reúne-se para discutir ideias. O grande desafio imposto ao Direito está exatamente aí, em conseguir manter o espaço da discussão pública, sem o qual a Democracia não pode sobreviver por muito tempo.

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