Exímio cronista, criador de um estilo, MACHADO DE ASSIS encontrou nas crônicas não apenas uma forma de aprendizado para os romances que então pensava escrever, mas também de participar à sua maneira da vida social. Já escritor famoso, com sete romances escritos, com um estilo burilado pelo tempo, MACHADO, entre 1892 e 1897, manteve uma coluna denominada “A Semana”, publicada no jornal carioca, “Gazeta de Notícias”. Em 8 de abril de 1894, era assim que MACHADO começava a sua habitual crônica naquele jornal:

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve-me a impertinência: os gostos não são iguais”.

MACHADO, se criou escola, não conseguiu fazer alunos na crônica. Não houve, nem há cronista no Brasil que tenha a acuidade na percepção da realidade, a fina inteligência e o estilo machadiano. Talvez o mineiro, OTTO LARA RESENDE, falecido em 1992, terá sido aquele que mais se aproximou de MACHADO, não propriamente pelo estilo, mas pela forma como escrevia suas crônicas. Vejam o seguinte trecho:

Pensar não dói. Mas pede esforço, treino. Como diria o Pacheco, o raciocínio é uma operação mental. Mas o sujeito aparece na televisão e, com a maior cara de pau, diz o que lhe vem à cabeça. Aliás, não vem: encontra porta fechada e vai embora. Cedinho, o cara sai de casa, leva consigo a pose e acha que está com o enxoval completo. Pode dar entrevista e massacrar os que ousem discordar”. (“Calma que o Brasil é nosso”, 4 de julho de 1991).

Sem crônicas como essas, o leitor de hoje sente a sua realidade mais empobrecida – e talvez esse sentimento  corresponda mesmo à verdade, já que são os hábeis cronistas como MACHADO e OTTO os únicos que conseguem modificá-la.

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