“Estamos em uma situação similar àquela que levou à Revolução Francesa” – é o que, enfaticamente, diz o conhecido economista francês, THOMAS PIKETTY em entrevista ao caderno “Ideas”, do jornal espanhol “El País”, ao prever que os privilégios que se têm concedido às grandes fortunas conduzirão a uma grande crise política, nos moldes em que historicamente sucedeu na gênese da Revolução Francesa.
Indagado se o capitalismo não permitiu e permite que se tenha melhorado o nível de vida, reduzindo as desigualdades, PIKETTY respondeu:
“O que tem permitido a prosperidade é ter o capitalismo sofrido uma suavização no século XIX, com uma economia do tipo socialdemocrata, uma economia mista na qual toda uma parte das riquezas está socializada. E há que continuar com esse movimento. O socialismo participativo, democrático e federal que eu desejo inscreve-se na continuidade das transformações muito importantes que têm ocorrido. O sistema de economia mista socialdemocrata que hoje temos em países da Europa Ocidental não tem muito que ver com o capitalismo colonial, patriarcal, autoritário de 1910. (…”).
“As revoluções nem sempre são catástrofes. Com efeito, na história há movimentos políticos, mobilizações que permitem avançar até uma maior igualdade. E insisto em uma mensagem positiva: há uma marcha para a igualdade que vem de longe, que é um fenômeno de longo prazo e que se nutre às vezes de revoluções, mas geralmente mais de rebeliões, de petições por maior igualdade. É um movimento que começou ao final do século XVIII, sobretudo com a Revolução Francesa e também com a rebelião dos escravos em São Domingo. Estes dois acontecimentos marcam o princípio do fim das sociedade de privilégios de um lado, e das sociedades escravistas, de outro”.