Ainda acerca dos “Pandora Papers”, episódio que tem gerado em diversos países (como na Espanha e Inglaterra) grande repercussão, mas que no Brasil os grandes jornais têm feito de tudo para transformá-lo em “fait divers”, é importante observar algo que revela como a informação é produzida no Brasil e como ela é altamente seletiva, conforme o interesse do órgão de imprensa que a divulga.
Não há leitor que não tenha percebido a intensa campanha contra o governo Bolsonaro que vem sendo feita por grande jornais brasileiros, que a cada dia buscam encontrar um fato cuja gravidade possa abrir espaço a uma terceira via. As manchetes desses jornais, elas próprias, comprovam existir esse objetivo. Mas, curiosamente, quando surge um fato cuja gravidade é considerável (exatamente a revelação feita no bojo dos “Pandora Papers” de que o ministro da economia e o presidente do Banco Central possuem fortunas depositadas em “offshore” no exterior), pois bem, quando um fato com esse poder de impacto revela-se, o que fazem os jornais? Não o divulgam, ou o reduzem a proporções tão diminutas, como se não fosse algo sequer para ser noticiado. Qual a explicação para esse fenômeno da comunicação social?
Simples: porque embora o episódio possa abalar a imagem do presidente da república, o mercado (a elite econômica) também suportará seus prejuízos, porquanto vários empresários também mantêm fortunas depositadas em “offshore” no exterior, e nunca se sabe bem que consequências poderiam surgir de uma investigação contra aquelas autoridades públicas.
Como observa SARAMAGO com a experiência que obteve dos anos em que foi “periodista”:
“Toda informação é subjetiva e não pode evitá-lo. Subjetiva em sua origem, em sua transmissão e em sua recepção, porque existem tantos entendimentos como receptores”. (Entrevista ao jornal El País, 31/7/2004).