SHAKESPEARE, em “Otelo”, para exprimir o quão era volúvel uma personagem, diz: “Ela era volúvel como a água”.
Podemos aqui dizer quão volúvel é a opinião dos grandes jornais brasileiros, e a prova disso é simples de encontrar. Basta que o leitor percorra edições anteriores à pandemia e até mais ou menos maio de 2020, e encontrará veemente editoriais defendendo a política do governo federal e ripostando qualquer crítica que se fizesse ao senhor Presidente da República. Páginas e páginas dos grandes jornais brasileiros formavam um verdadeiro escudo de proteção ao Presidente da República. Mas, volúveis como a água, os grandes jornais brasileiros mudaram e passaram então a uma veemente posição crítica ao Presidente da República, tão veemente como era quando o defendiam. O que terá mudado?
A Sociologia está ainda por realizar um meticuloso trabalho de análise de como se forma a opinião dos jornais brasileiros, sobretudo a partir da implantação da República, o que significa dizer que o tempo a ser objeto desse estudo é longo e percorre importantes etapas de nossa história, mas que certamente renderá frutos importantíssimos e indispensáveis ao conhecimento de que como operaram e ainda operam os grandes jornais, que, aliás, permanecem sempre na propriedade de pequenos grupos econômicos – pequenos apenas no número, mas não no poder que exercem.
Enquanto esse estudo da Sociologia não vem, podemos recolher algumas preciosas informações no grande livro “A História da Imprensa no Brasil, de NELSON WERNECK SODRÉ. Há ali um esboço de como se estabelecem as relações de poder de que participam os jornais brasileiros.
Uma observação final: em inglês, a expressão escrita por SHAKESPEARE é “She was as false as water”, mas no Brasil os tradutores optaram por traduzir “false” como “volúvel”, embora o insuperável “The American Heritage – Dictionary of the English Language” não abone entre os significados para a palavra “false” o sentido de volúvel, que na Língua Inglesa tem outra palavra para o significar: “voluble”, “versatile”.
