Há cerca de um mês publicamos um texto em que analisamos o interessante fenômeno que então começava a produzir efeitos no Brasil. Muitos governantes (governadores e prefeitos) afirmavam que não se podia escolher a vacina para a “Covid”, e até um slogan (desde sempre uma eficaz estratégia de comunicação de massa) foi criado: “Vacina boa é  vacina no braço”. Chamamos esse fenômeno de “socialização na vacina”, e aproveitamos aquele ensejo para, com uma nota de ironia, observar que a “socialização”, defendida por muitos políticos liberais, produzia efeitos apenas no campo das vacinas, mas não dos hospitais, tanto assim que os mesmos políticos que defendem o direito de não escolha das vacinas são os mesmos que, doentes, escolhem  os melhores hospitais privados para seu tratamento.

Andando o tempo, a realidade como sempre impôs-se, de modo que aquele discurso começa agora a perder força, o que, aliás,  sempre acontece quando se começa a questionar com maior consistência a sua racionalidade.

Como as vacinas são produzidas cada qual com a sua específica tecnologia, elas não são, nem podem ser iguais, seja em sua eficácia terapêutica, seja em seus potenciais efeitos colaterais.  A respeito desse importante tema,  escreveu FERNANDO REINACH, em sua  coluna semanal no jornal “O Estado de São Paulo”, edição de hoje:

Passado um ano e meio, a situação é diferente. Diversos imunizantes foram desenvolvidos. Sabemos desde o início que diferentes tecnologias resultaram em vacinas com diferentes características. Algumas com uma alta eficácia, outras com média e outras com baixa. Além disso, os conhecimentos que temos sobre a maneira como cada produto nos ajuda a combater o vírus varia de vacina para vacina. Assim, falar ‘das vacinas’ como algo homogêneo é uma enorme falácia”. 

E acrescenta o ilustre biólogo: “Não bastasse a diversidade de vacinas, o vírus já não é mais homogêneo”. 

Com a recente morte de um ator nacionalmente conhecido, a questão da eficácia das vacinas começa a ganhar corpo, a evidenciar quão absurda é a posição de muitos governantes quando defendem o direito de não escolha da vacina. Como diz FERNANDO REINACH, é uma “enorme falácia” dizer que as vacinas são iguais.

O que surpreende, contudo, é como certas instituições estatais, que, segundo a Constituição, devem atuar na proteção do interesse público, até agora nada fizeram  para garantir pela via judicial que as pessoas  possam escolher a vacina de acordo com a eficácia que querem obter, ou mesmo para evitar riscos que determinada vacina lhes pode trazer, um direito de liberdade que não se justifica apenas pela liberdade em si, mas sobretudo pelas questões técnicas envolvidas e que radicam na distinção entre as vacinas já produzidas. A propósito, são hoje trezentas as vacinas que estão sendo produzidas no mundo inteiro, o que basta para demonstrar quão diferentes são as vacinas, diferenças que, enfatize-se, envolvem a capacidade terapêutica e os efeitos colaterais.

Quando se fala em “aparelhamento estatal”, que, de resto, é um fenômeno de larga duração em nosso país, é necessário considerar que muitas vezes ele ocorre tanto para cá, quanto para lá …

 

 

 

 

 

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