Dizia o grande romancista JOSUÉ MONTELLO que, por vezes, para recolher novidades, o melhor mesmo é ler revistas velhas. Suponho que daqui a cinquenta anos, quem queira saber o que foi a pandemia que hoje vivenciamos não poderá se socorrer das revistas velhas, pois que hoje já não as temos mais. Mas poderá buscar informações na “Internet”, que quiçá terá já outro nome, tão rápida que será que não parecerá com a que temos hoje. E o leitor do futuro se surpreenderá com um efeito que a pandemia produziu: um efeito positivo no universo das desgraças que nos impacta todos os dias.
Sim, esse leitor certamente se espantará ao saber que, por causa da pandemia. a máquina da Justiça começou a andar tão rápido como nunca ocorrera entre nós. Saberá pelos dados da história que, em 2015, modificou-se o código de processo civil, e que o processo passou a ter um formato eletrônico, mas que tudo isso não melhorou em quase nada a velocidade do processo.
Sim, foi a pandemia que fez o Poder Judiciário descobrir que quanto mais distante estiver o juiz do fórum (quero dizer do prédio do fórum), não apenas ele, mas toda a sua equipe de funcionários, produzem e produzirão mais, e basta compararmos a velocidade do processo de hoje com o que se tinha quando vivíamos a realidade do processo físico e da presença física do juiz no fórum.
Depois de um ano de pandemia, os números que dizem respeito a sentenças e decisões proferidas pelo Poder Judiciário brasileiro de fato impressionam, tanto quanto a velocidade que se fez imprimir ao processo civil. Algo realmente inédito em nosso sistema judicial.
Pudéssemos ter previsto que, em 2020, a pandemia nos assolaria, mas traria esse efeito positivo na produtividade e celeridade do Poder Judiciário, não precisaríamos ter feito uma reforma do Poder Judiciário, como também não necessitaríamos de um novo código de processo civil. Era suficiente criar o trabalho à distância.
Tem sempre razão CERVANTES em suas observações, como nesta, que está na primeira parte de seu “Dom Quixote”: “A ventura sempre deixa nas desgraças uma porta aberta para dar-lhes remédio”.