Comparemos algumas específicas circunstâncias presentes em março de 1964 em face daquelas  podemos encontrar hoje em nossa realidade.

  • em março de 1964, tínhamos um presidente (João Goulart) que flertava com movimentos da esquerda, embora estivesse distante de politicamente afinar-se com esses movimentos.
  • em 2021, temos um presidente (Bolsonaro) que, vinculado diretamente a movimentos da direita, flerta com a ditatura, embora esteja muito distante de ser um ditador.
  • em 1964, parte importante classe política, sobretudo a bancada de Minas Gerais,  e aquela mais ligada aos empresários, afastara-se de Goulart exatamente por ele atender a pleitos defendidos por correntes da esquerda.
  • em 2021, parte significativa da classe política isola-se cada vez mais de Bolsonaro, na mesma proporção e velocidade em que partidos da esquerda conseguem que uma parte da população vá para as ruas, reclamar direitos.
  • em 1964, Goulart incentivara, ainda que indiretamente, uma insurreição entre os praças das Forças Armadas, a partir sobretudo da Aeronáutica, quando decidiu não punir alguns insurretos (o que se revelava justo na ocasião).
  • em 2021, Bolsonaro aproxima-se cada vez mais dos praças das Forças Armadas e particularmente dos policiais militares de baixa patente, buscando atender a seus pleitos (muitos deles justos e sempre esquecidos pelos presidentes anteriores, como é o caso do financiamento para a aquisição de casa própria a policiais).
  • em 1964, a sociedade brasileira estava praticamente dividida entre quem apoiava um golpe militar e aqueles que defendiam a permanência de Goulart no governo.
  • em 2021, polarizou-se a sociedade brasileira em um nível bastante acentuado. Não se trata de uma divisão, mas de uma verdadeira polarização, com efeitos que a Sociologia e a Ciência Política de há muito estudam quando analisam o poder das massas, fenômeno que o escritor ELIAS CANETTI examinara com grande acuidade.
  • em 1964, a nossa economia vivia um impasse diretamente causado pela política. Goulart procurara afastar-se das decisões políticas mais importantes, dada a desconfiança da elite econômica de que seu governo tinha uma feição populista à esquerda.
  • em 2021, a pandemia tornou inoperante a nossa economia, não deixando espaço de manobra ao presidente Bolsonaro. O país registra um altíssimo número de desempregados e as vagas de emprego perdidas não são recuperadas, havendo ainda o aumento da inflação.
  • em 1964, o golpe militar surge a partir de uma decisão conjunta de políticos e empresários, depois que tiveram a plena certeza de o governo Goulart caminhava, já então a passos largos, para a implantação de algo semelhante a um “república sindicalista”.
  • em 2021, movimentos sociais ganham força e recebem apoio de parte da classe política e de importantes segmentos do Poder Judiciário, causando a impressão de que há ou pode haver em curso uma desestabilização institucional. “Fait divers”, como a questão que diz respeito ao voto eletrônico, aparecem como temas secundários que contribuem para essa desestabilização.

Que conclusões podemos tirar desse quadro comparativo? Como dizia o grande economista ROBERTO CAMPOS, citando o poeta inglês, SAMUEL TAYLOR COLERIDGE:

“a luz que a experiência nos dá é a de uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que deixamos para trás”. 

 

 

 

 

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