Se estivermos atento às políticas que vêm sendo adotadas pelo governo Bolsonaro, perceberemos que não se trata de posições que caracterizam esse governo como um governo militar. Trata sim de um governo neoconservador, que, como observa HABERMAS, distingue-se por considerar prevalentes os critérios de uma racionalidade econômica e administrativa em detrimento de uma cultura modernista. Basta considerar o que tem feito o governo Bolsonaro contra a cultura brasileira, reprimindo-a fortemente, sobretudo por lhe retirar verbas, ao mesmo tempo em que incentiva as reformas previdenciárias, tributária e administrativa sob o argumento da racionalidade econômica. Note-se a importância que o ministro da Economia possui no governo Bolsonaro, a ponto de ter como confirmado que ele se manterá tanto quanto possa durar esse governo neoconservador.
Observe-se, outrossim, a intensa resistência que o governo Bolsonaro fez e faz contra medidas de isolamento social e de fechamento do comércio, e também contra a aquisição de vacinas para a “Covid”, desconsiderando simplesmente o que o artigo 196 da Constituição de 1988 prevê em harmonia com um Estado de bem-estar social, erigido pelos neoconservadores como inimigo direto do Estado de Direito, dentro da doutrina ideada por CARL SCHMITT.
Equivoca-se, portanto, quem se atém apenas à aparência das coisas, quando considera que um militar (ainda que inativo) no poder converte o governo em um governo militar. A essência do governo Bolsonaro não está aí: está, sim, em representar a posição dos neoconservadores.