A nossa realidade nos obriga a pensar, uma vez mais, no que significa o conceito de “revolução”, e se esse fenômeno político-social-jurídico teve existência em nossa história. Vem a propósito trazer aqui o que o imortal GILBERTO FREYRE dissera a respeito da revolução de 1930:
“Não creio que o movimento de 1930 mereça sequer o nome de revolução. O que se deu, em outubro daquele ano, foi uma mudança de ocupantes dos grandes postos nacionais e estaduais. Apenas uma mudança do pessoal dirigente. Isso, a meu ver, não se pode considerar nem social, nem política nem economicamente uma revolução. (…). Na verdade, o movimento de 1930 sequer produziu uma liderança revolucionária, não conseguiu estabelecer no país uma liderança construtivamente revolucionária. (…)”. (conversa com o jornalista JOEL SILVEIRA, in “A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista).
Se considerarmos o que ocorreu recentemente, quando do impeachment da presidenta DILMA, retirada do cargo por um prosaico motivo contábil, e então refletir se terá ocorrido naquele episódio uma revolução, poderemos nos valer do que disse e refletiu o autor de “Casa Grande e Senzala”, concluindo que, a exemplo do que sucedera em 1930, houve em 2016 apenas uma “mudança de ocupantes dos grandes postos nacionais”, retomando o poder, por meio do vice-presidente, uma elite política e econômica que se via então assustada por uma pequena guinada que o Brasil fazia em direção a um projeto ainda que distante de socialismo. De resto, repetia-se o mesmo que havia acontecido quando JOÃO GOULART falara (e apenas falara) de uma reforma agrária.
Com o impeachment de DILMA, aquela elite retornou ao poder – e nele se mantém, mas sem produzir nenhuma liderança política.