PROUST, em “A Busca do Tempo Perdido”, está a todo momento tentando compreender (e nos ensinar) como opera a memória, sobretudo a involuntária. São várias as passagens, espalhadas nos volumes que compõem a sua grande obra, em que aparecem referências à memória, como nesta passagem:
“Será porque não revivemos nossos anos em sua sucessão contínua, dia por dia, mas na recordação fixada no frescor ou na insolação de uma noite ou de uma manhã, recebendo a sombra de algum lugar isolado, cercado, imóvel, parado e perdido, longe de tudo o mais, e que assim, ao se suprimirem as mudanças graduadas, não só no exterior, mas também em nossos sonhos e em nosso caráter em evolução, mudanças que nos conduziram insensivelmente pela vida, de um tempo a um outro muito diferente, se revivemos uma recordação colhida de um ano diverso, encontramos entre eles, graças a lacunas, a imensos muros de olvido, algo assim como o abismo de uma diferença de altura, como a incompatibilidade de duas qualidades incomparáveis de atmosfera respirada e de colorações ambientes?”. (“O caminho de Guermantes”).