“A nossa ordem social é um enorme canteiro em que as classes privilegiadas são as flores, e a imensa massa da maioria é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo. Nasci na classe privilegiada e nele vivia até hoje, mas o que vi de miséria silenciosa nos campos e cidades me força a repudiar uma ordem social que está contente com isso e arma-se até com armas celestes contra qualquer mudança. Esta visão da realidade brasileira sempre me preocupou e sempre me estragou a vida”. 

Esse texto é de MONTEIRO LOBATO, produzido entre 1945-46. E é do mesmo período, e com o mesmo tom o que escreveu a seu amigo Godofredo Rangel o seguinte:

O mundo sempre esteve dividido em ricos e pobres. Religião e exército foram inventados para manter o pobre na pobreza e o risco na riqueza. São manhas de ricos. O rico é a elite – a flor sobre o esterco. E o meio de manter o pobre na pobreza que esterca a riqueza era, por meio do Padre, prometer-lhe uma eternidade de maravilhas depois da morte. ‘Vocês aguentam a coisa aqui. Vão aguentando, porque depois da morte tudo muda! O rico vai para o inferno e você para o céu. Mas o pobre acabou por desconfiar do céu e das promessas de seus problemas pela elite. Percebeu que sempre fora embromado – decidiu tomar nas mãos seus próprios problemas”.

(“MONTEIRO LOBATO – VIDA E OBRA”, biografia por Edgard Cavalheiro, tomo II, p. 225 e 235, Companhia Editora Nacional, São Paulo).

 

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