Quem ouve ou lê o presidente da câmara federal afirmar, como hoje o fez, que não “abrirá processo de impeachment”, fica certamente com a impressão de que se trata esse – de abrir ou não um processo tão importante quanto esse – de um poder absoluto que a Constituição de 1988 conferiu-lhe, como se o texto constitucional o tivesse transformando em um “deus”, que, acima do bem e do mal, pudesse decidir a respeito.
Esse tipo de afirmação revela acima de tudo como o nosso Brasil ainda é dominado por “donos do poder”, como os descreveu magistralmente RAYMUNDO FAORO.
Se efetivamente, avançamos muito com a nossa democracia, na fisionomia que lhe construiu a Constituição de 1988, a ponto de podermos dizer que os políticos têm hoje muito menos poder do que já tiveram, controlados que passaram a ser mais fortemente pela opinião pública, temos ainda muito caminho a percorrer, para que ninguém possa se arvorar a querer ser o dono de nossa Constituição e dos nossos destinos.