Biografias por vezes nos trazem inesperadas informações que, curiosamente, não dizem respeito diretamente ao biografado. São quase que uma espécie do que os franceses chamam de “fait divers”. E se tornam importantes exatamente por isso.

É o que ocorre com a biografia do famoso jornalista brasileiro, SAMUEL WAINER, dono da extinta rede de comunicação liderada pelo jornal “Última Hora”. Nessa biografia, quando se está retratar as circunstâncias que causaram a extinção das empresas de SAMUEL WAINER, que são as circunstâncias que dizem respeito ao golpe militar de 1964, a autora, KARLA MONTEIRO, reproduz os editoriais de importantes jornais brasileiros, que tomavam posição em face do golpe. Um desses jornais (o leitor certamente se espantará), é a Folha de São Paulo, em cujo editorial pode-se ler:

“(…) Assim se deve enxergar o movimento que empolgou o país. Representa, fora de dúvida, um momento democrático da nossa vida, que felizmente termina sem derramamento de sangue. E termina com a vitória do espírito da legalidade, restabelecido o princípio da Constituição e do Direito. (…)”. 

Essa foi, pois, a linha de todos os grandes jornais brasileiros, elogiando o golpe, ingenuamente acreditando que a democracia, que acabava no mesmo momento em que JOÃO GOULART fora obrigado a renunciar, ressurgiria como a “Fênix”. Todos vimos o que sucedeu depois.

O único jornalista que lobrigou o caos em que entraríamos foi DANTON JOBIM, também citado na biografia de WAINER. Em editorial, JOBIM escreveu:

Desta vez não houve um contragolpe ou um simples arranhão na Constituição como em 1955. Foi-se às do cabo: depuseram o presidente da República e alguns governadores estaduais. Ainda não se sabe se os freios aguentarão o carro ladeira abaixo. (…).”.

Sugere-se ao leitor que, tão logo termine a leitura da biografia de WAINER, corra as páginas de outro livro, coordenado por outro jornalista, ALBERTO DINES, “Os Idos de Março e a Queda em Abril”. Lidos e conjugados esses dois preciosos livros, terá o leitor plena capacidade de compreender como chegamos até aqui.

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