“Machado de Assis é, ao mesmo tempo, muito brasileiro e o menos brasileiro dos grandes escritores brasileiros. Este aspecto, que um estrangeiro percebe facilmente, talvez não tenha sido focalizado com o interesse desejável”.
É o que escreveu JEAN-MICHEL MASSA em sua obra, hoje algo esquecida, “A Juventude de Machado de Assis”, uma biografia que abarca os anos de 1839 a 1870 da vida de nosso maior escritor.
Essa obra, fruto da tese de doutoramento de MASSA na França, foi publicada no Brasil em 1971 pela editora Civilização Brasileira, e hoje constitui preciosidade de alfarrábio.
Rica em detalhes da vida de MACHADO DE ASSIS, indispensável a qualquer machadiano, a obra de MASSA, já introdução nos traz algumas curiosidades, como a que diz respeito a um prefeito de uma cidade do Rio Grande do Sul que proibiu que o nome de MACHADO DE ASSIS fosse dado a uma escola, porque julgava perniciosa a influência do escritor, então tido como adepto ao ceticismo e ao niilismo.
A distância do tempo (MACHADO DE ASSIS faleceu em 1908), a fama por ele conquistada sobretudo depois de 1939 e de 1958 (centenário de nascimento e cinquentenário de morte), e que desde então não parou de crescer, não nos permite compreender os vários estágios pelos quais a obra de MACHADO atravessou, parecendo que ela fora sempre intocável. A leitura da importante biografia produzida por MASSA nos revelará um quadro muito diferente do que imaginamos. E o leitor constatará que não foi apenas SILVIO ROMERO quem criticou com azedume o autor de “Memória Póstumas de Brás Cubas”.