Há considerável tempo, desde a década de 1980, estabeleceu-se um campo de estudo que ficou conhecido como “pós-hermenêutica”. Isso se deve sobretudo aos estudos do alemão, HANS ULRICH GUMBRECHT.

A pós-hermenêutica não tem por objetivo infirmar os estudos consolidados pela hermenêutica, mas sim trazer para a análise filosófica aqueles aspectos que, por serem desprovidos de sentido, ou que não podem ser interpretados pelos métodos tradicionais, ficam de fora do campo hermenêutico, mas que apresentam importância como estrutura de um sentido não racional, e que por isso devem ser objeto de uma análise estética.

Estética entendida no campo da pós-hermenêutica não como correspondente ao estudo do belo, mas no sentido de sensação ou percepção, tal como utiliza HEIDEGGER desse sentido.

Uma das primeiras abordagens realizadas no campo da pós-hermenêutica ocorreu na literatura. Enquanto a hermenêutica busca realizar uma atividade de compreensão de sentido entre o autor a obra e o leitor, a pós-hermenêutica analisou como se dá a percepção pelo leitor, e apenas por meio dele, da obra, extraindo daí uma estrutura de sentido que escapa ao campo da hermenêutica.

Outros estudos da pós-hermenêutica tiveram consistente aplicação, como dá conta as obras de GUMBRECHT, algumas já traduzidas para o nosso idioma.

Considerando, pois, o acentuado tempo decorrido desde a demarcação do campo da pós-hermenêutica, e das diversas áreas em que sua aplicação trouxe já importantes resultados, mostra-se necessário perscrutar sobre a possibilidade de aplicação da pós-hermenêutica no Direito, iniciando-se, talvez, por aquele mesmo caminho trilhado pela pós-hermenêutica quando buscava sedimentar seu objeto metodológico, o que, no caso do Direito, pode envolver a análise de como as partes de um processo judicial percebem ou sentem a sentença, e qual estrutura de sentido estético surge nesse contexto, examinando-se a partir daí como a hermenêutica tradicional, aplicada sobre a sentença como comando estatal,  pode ter seus resultados modificados pela pós-hermenêutica.

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