O EÇA, em “O Mandarim”, traça, com argúcia, a visão filosófica que ele tinha do papel da religião em geral em nossa sociedade.  Transcremos aqui o inteiro parágrafo, sem o que o leitor, sem acesso direto ao texto da obra, poderia encontrar alguma dificuldade em compreender a observação do percuciente romancista português:

Então eu próprio me abismei em práticas piedosas – e Lisboa assistiu a este espetáculo extraordinário; um ricaço, um Nababo, prostando-se humildemente ao pé dos altares, balbuciando de mãos postas frases da Salve-Rainha, como se visse na Oração e no Reio do Céu, que ela conquista, outra coisa mais que uma consolação fictícia, que os que possuem tudo inventaram para contentar os que não possuem nada … Eu pertenço à Burguesia; e sei que se ela mostra à Plebe desprovida um paraíso distante, gozos inefáveis a alcançar – é para lhe afastar a atenção dos seus cofres repletos e da abundância das suas searas”.

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