O escritor e filósofo francês, ROLAND BARTHES, preparava um curso sobre a Fotografia e sua Linguagem que então ministraria no Collège de France, quando foi surpreendido pela morte em março de 1980, vítima de um atropelamento. A morte de sua mãe, três anos antes, despertara-lhe o interesse pelo que a Fotografia parecia esconder, ou por aquilo que entremostrava, e seus vigorosos estudos no âmbito da Semiótica naturalmente o tinham conduzido até a Fotografia.

Um dos temas que haviam feito surgir o interesse de BARTHES estava no papel que o texto desempenhava quando associado à imagem fotográfica. Não lhe parecia claro que o texto pudesse ter a mesma importância que a fotografia, mas também se dera conta de que a fotografia, quando associada a um texto, poderia gerar um determinado efeito na compreensão do leitor, modificando-a. Sim, do “leitor”, porque a fotografia é um meio de comunicação, e se há comunicação, existe alguém a quem a mensagem deva ser transmitida, segundo um específico código. Mas qual a mensagem que a fotografia transmite ou quer transmitir, e qual o papel do texto nesse contexto?

Pois bem, o livro, “O texto da rua”, escrito pelo designer, VICTOR BURTON, recentemente lançado pela editora Sextante, fornece pistas que pode levar o leitor – sempre o leitor – a avançar naquilo que BARTHES lobrigou. BURTON, em hercúleo trabalho de campo, coletou mais de cem imagens fotográficas de letreiros que estavam (e alguns poucos ainda estão) estampados nas ruas da cidade do Rio de Janeiro,  instalados em prédios públicos e comerciais. São imagens fotográficas que, reproduzindo os letreiros de diversos estabelecimentos comerciais, formam, segundo o autor, a identidade visual das nossas ruas.

E ao dar o nome “O texto da rua”, BURTON mantém viva a temática que havia despertado o interesse de BARTHES quanto à busca de um sentido todo próprio, quando a imagem fotográfica está associada a um texto. Com efeito, em cada letreiro comercial reproduzido no maravilhoso livro, o leitor encontrará um pequeno texto, com o nome do estabelecimento comercial ou de algum dos produtos comercializados, provocando a sua lembrança, não propriamente do estabelecimento comercial ou de algum  produto, mas de algo que está para além disso, ou seja, daquilo que BARTHES denomina de “punctum,” que é um tipo de estalo que o leitor experimenta no momento em que seu olhar se concentra sobre algumas imagens fotográficas. O “punctum”, segundo BARTHES, “é uma espécie de extracampo sútil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver”.

Não é à toa, aliás, que BARTHES, em seu livro “A Câmara Clara – Nota sobre a Fotografia”, fez uma homenagem ao “Imaginário” de Sartre. O livro de BURTON também presta essa homenagem.

 

 

 

 

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