Se o genial EÇA DE QUEIROZ estivesse vivo e a escrever, com seu grande amigo, RAMALHO ORTIGÃO, as Farpas, famoso folhetim, certamente se interessaria pelo saboroso episódio que está a ocorrer agora em sua querida Lisboa. Refiro-me ao “Fórum de Lisboa”, um evento de nosso Direito projetado além-mar, reunindo ministros do Supremo Tribunal Federal, diversos outros ministros, advogados e empresários, estimando-se que mais de cem autoridades ali compareçam, todos imbuídos da árdua missão de fazer com que aos menos os juristas portugueses possam ver a excelência alcançada por nosso Direito.
EÇA, que se interessava por tudo que fosse ligado à sua querida Lisboa, hábito que não abandonou mesmo quando afastado de sua terra natal exercendo o cargo de diplomata, recolhia desses inusitados eventos material de que se utilizava para escrever as crônicas para o folhetim que com RAMALHO ORTIGÃO ideou e escreveu, em que ambos abordavam temas do cotidiano, normalmente os encarando com uma pitada de ironia, como a formar um mosaico que se revelaria como um documento histórico para a compreensão de como era àquela altura a sociedade lisboeta, ainda muito provinciana.
Pois que EÇA com certeza veria na escolha de Lisboa para sediar um evento jurídico de tão grande importância como o “Fórum de Lisboa” razão suficiente para ajustar seu pince-nez e olhar bem para tentar compreender o que teria levado Lisboa a ter sido escolhida por juristas brasileiros para que, ali, na terra de FERNANDO PESSOA, divulgassem seu Direito, o Direito brasileiro, e não em terras brasileiras, como seria de comum ocorresse. Quiçá Lisboa terá mudado, e ele não percebera, ou então para constar que o Direito brasileiro pudera efetivamente desvencilhar-se da influência das “Ordenações do Reino, ganhando uma consistência científica que mereceria uma análise mais profunda, quando menos no campo sociológico.
Uma pena que EÇA não tenha podido presenciar esse maravilhoso evento.