Alvíssaras, a boa Literatura começa a ser citada em decisões judiciais no Brasil, o que, além da erudição do julgador, bem demonstra que a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida, frase que é de OSCAR WILDE, famoso escritor e que, aliás, conhecera bem o processo judicial e as decisões judiciais, quando foi processado por “cometer atos imorais com diversos rapazes”.
Semana passada, dizem os jornais, em uma decisão monocrática emanada do Supremo Tribunal Federal, o julgador utilizou-se de conhecidas obras de dois escritores franceses, “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas, e “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, para demonstrar que efeitos nefastos um processo judicial pode produzir contra um inocente.
É sem dúvida oportuna a lembrança a VICTOR HUGO associado ao problema da Justiça, porque devemos lembrar o que o genial escritor registrou no prefácio de um outro grande livro, “Os Homens do Mar”, em que explica a gênese de sua obra:
“A religião, a sociedade, a natureza; eis as três lutas do homem. Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa-se que ele creia, daí a igreja; que edifique, daí a cidade; que viva, dai o arado e o navio. Mas estas três soluções, encerram três guerras. A misteriosa dificuldade da vida sai de todas três. O homem vê-se a braços com o obstáculo, sob a forma superstição, sob a forma preconceito, sob a forma elemento. Um triplo ananke pesa sobre nós; o ananke dos dogmas, o ananke das leis, o ananke das coisas. O autor denunciou o primeiro, em Nossa Senhora de Paris; n’Os Miseráveis aparesentou o segundo; neste livro indica o terceiro. A estas três fatalidades, que envolvem o homem, junta-se a fatalidade íntima, o ananke supremo, o coração humano”.