Enquanto no Brasil a análise das medidas tarifárias adotadas pelo governo americano concentra-se na ideia de que se trata de uma medida de retaliação norte-americana contra a justiça brasileira, uma afronta à nossa soberania judicial como resultado de uma “conjuração internacional de forças”, nos Estados Unidos a perspectiva de análise é outra, e mais acertada, porque focada em aspectos práticos, e nada filosóficos, ou jurídicos.
Cuida-se, com efeito, de um projeto de expansão do poder político norte-americano por meio da economia, cujos limites tornaram-se, na visão norte-americana, mais estreitos nos últimos anos em razão da participação chinesa e de sua óbvia liderança no “BRICS”, uma organização que começou nos anos 2000 como um mero agrupamento de interesses, mas que hoje assumiu uma destacada importância, a ponto mesmo de não se o poder classificá-lo mais como um mero bloco econômico, o que evidentemente coloca em risco os interesses políticos e econômicos norte-americanos no plano do comércio mundial.
O governo norte-americano está, portanto, a testar até aonde pode ir o seu poder político, e o faz por meio da economia, embora pretexte com uma linguagem que faz presumir esteja a tratar exclusivamente com o direito como aplicado no Brasil, fazendo criar uma tensão entre o (aparente) significado de suas palavras e a verdade que a elas se deva extrair. Há, pois, uma ilusão criada por gestos e palavras do governo norte-americano, ilusão que, no Brasil, está a produzir efeitos como se da verdade se tratasse.
Já nos Estados Unidos os especialistas em economia desde logo perceberam como a linguagem do governo de seu país estava a ser utilizada para esconder o real propósito do aumento das tarifas. Como escreveu o repórter, TONY ROMM, com larga experiência na cobertura de assuntos econômicos: “Desde há muito tempo, o Presidente Trump tem visto as tarifas como uma arma potente para aumentar a receita, impulsionando a produção e com isso tornando mais fácil para as empresas americanas venderem seus bens no exterior”. (tradução nossa).
Assim, o argumento alegado pelo governo norte-americano para o duro ataque à economia brasileira é o de que o ex-presidente brasileiro não estaria a contar com a garantia a um processo justo, o que, na visão do governo norte-americano, legitimaria a aplicação de severas penalidades comerciais, como o aumento das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros. Mas a verdade é que o objetivo do governo norte-americano está muito além de apenas querer interferir na justiça brasileira, como se comprova pelo fato de o governo norte-americano ter imposto novas tarifas a outros países, como se dá com o México e contra a União Europeia).
É a pura expansão de seu poder político por meio da economia, o que passa pelo direito, cujos limites dependem necessariamente daquilo que a economia determina. Uma verdade que é antiga quanto o próprio direito. Não há nada de novo debaixo do sol, já dizia ECLESIASTES.