São vários os critérios pelos quais se pode classificar um país em termos de seu desenvolvimento humano. A renda, a escolaridade, o acesso à saúde, são alguns desses critérios. Mas suponho que o Brasil terá inventado mais um, e ainda que não se possa estender a sua aplicação a outros países, não deixa de ser um critério seguro, ao menos para avaliar o nosso desenvolvimento.
Antigamente, quando se entrava em um táxis, era comum que o taxista, puxando conversa com o passageiro, logo tratasse de lhe perguntar qual era a sua opinião, a do passageiro, sobre a seleção brasileira, e à resposta seguiam-se outras tantas perguntas, todas relacionados à então paixão nacional, o futebol, o então futebol bretão. Hoje, a coisa mudou. Uma outra paixão tomou o lugar.
Hoje, tão logo entra no táxi, o passageiro é convidado a expressar a sua opinião sobre o resultado do processo judicial que agora se inicia, envolvendo um ex-presidente da república. Em lugar, pois, de responder sobre a seleção brasileira, o passageiro é acossado a responder se considera o acusado culpado ou não, e o tempo da corrida é todo consumido em uma espécie de futurologia quanto ao destino judicial do ex-presidente. E muitas vezes, quando a corrida termina, taxista e passageiro estão ainda a especular sobre esse importante tema nacional.
Guardadas as devidas proporções, o mesmo se dá com os meios de comunicação, que fazem os mesmos que os taxistas, com a diferença de que estes, os taxistas, mais modestos, querem saber a opinião dos passageiros, enquanto os jornalistas não se preocupam senão com a sua própria opinião.
O fato impressiona porque não tínhamos consciência de como um tema tão especializado, dominado por uma linguagem muitas vezes sibilina (“denúncia”, “recebimento da denúncia”, “citação”) poderia cair no gosto popular, invadindo o cotidiano popular. Se antes o brasileiro comum supunha ter o mesmo conhecimento de um técnico de futebol, agora acredita tenha o mesmo poder diante de um tema tão complexo, como é o de poder dizer, com antecedência, o que ocorrerá com o destino de um processo judicial. Não somos mais duzentos milhões de técnicos de futebol: somos todos juristas.
Não há dúvida de que o Brasil está a evoluir …