É com esse título – “Academias Populistas” – que o professor de Literatura geral e comparada, MARCOS LOPES,  busca demonstrar, em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo” (edição de hoje), a ocorrência de um fenômeno que lhe parece novo, envolvendo em especial a Academia Brasileira de Letras – ABL. Segundo o professor, um “ato de contrição” estaria a permear atualmente a escolha dos “novos intelectuais públicos”, sobretudo daqueles escolhidos para a ABL, e como condição imposta não apenas para a escolha, senão que para que possa ser acolhido, está em que ele, o novo intelectual e imortal “se adapte-se às medidas”. As academias de letras, em especial a ABL (que é, de fato, a única relevante em nosso país), teriam se tornado “populistas”, na visão do ilustre professor.

Mas, de fato, existiria esse fenômeno, e mais que isso, seria mesmo um fenômeno novo na escolha dos imortais da ABL?

Se observarmos o que escreveu HUMBERTO DE CAMPOS, também ele um imortal de nossa ABL, constataremos que esse fenômeno já àquela altura em que HUMBERTO se submetera ao sempre acirrado pleito para a ABL, em 1920, estava ali todo presente, e de resto já assim havia ocorrido desde a primeira eleição na ABL, conduzida por MACHADO DE ASSIS, quer na escolha dos quarenta imortais que formariam a ABL, quer de seus padrinhos.

Critérios políticos estiveram, portanto, sempre atuantes na escolha do novo imortal. Como explicar a escolha, por exemplo, do ministro do STF, ATAULFO DE PAIVA, que de Direito sabia tanto quanto de Literatura, ou seja, quase nada, ou a escolha de CLÁUDIO DE SOUZA (sucedido na cadeira por este sim, verdadeiro escritor, JOSUÉ MONTELLO), ou a escolha de GETÚLIO VARGAS e de JOSÉ SARNEY, senão que por ter prevalecido um critério essencialmente político?

O que terá mudado não é o critério (que se mantém desde sempre como político), senão que o se modifica é o sistema de política atuante em cada momento histórico no Brasil. Se formos às escolhas feitas pela ABL durante a Ditadura militar, constataremos como essas escolhas recaíram sobre quem possuía um perfil mais conservador, como antes havia ocorrido durante o Governo GETÚLIO, em que fora eleito LAURO MÜLLER. Portanto, o fenômeno não é novo, e, aliás, como dizia MACHADO DE ASSIS, invocando Eclesiastes, nada há de novo debaixo do Sol, nem mesmo o critério pelo qual se escolhem os imortais.

Se temos hoje um governo de linha mais à esquerda, ou mesmo mais liberal, é natural que esse sistema político interfira diretamente na escolha dos novos imortais da ABL, que, aliás, seria uma instituição mais política do que é se o presidente AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE, não tivesse, com inexcedível coragem, resistido à mudança da sede da ABL para Brasília.

Há mesmo por questionar se o critério político não se terá tornado fixo, ampliando o conjunto daquilo que MACHADO DE ASSIS afirmava como tal, de maneira que, ao lado da Lua, das pirâmides do Egito, e da finada dieta germânica, teríamos também o critério político para a escolha dos imortais da ABL.

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