O escritor e jornalista, HELMUT ORTNER, assumiu para a sua vida uma finalidade: a de fazer lembrar a todos, em especial na Alemanha, de que existiu o nazismo e do que ele significou. ORTNER tem vários livros publicados com o tema, utilizando-se muitas vezes de personagens diretamente envolvidos com o nazismo: os juízes, por exemplo, que contribuíram em grande escala para que esse triste episódio da humanidade pudesse ocorrer.
O jornal “Público”, de Portugal, edição de hoje, publica uma matéria sobre alguns dos livros de ORTNER, em que o autor refere-se em especial aos juízes e seu papel no nazismo:
“Ortner escreveu tanto sobre os juízes de Hitler como sobre o homem que, sozinho, o tentou matar: ‘São personagens que são como que arquétipos antagonistas. O juiz é um exemplo que ilustra ‘um dos capítulos mais tristes da história do pós-guerra da Alemanha’; muitos juízes e juristas, mesmo os responsáveis por elaborar as leis que possibilitaram condenações rápidas, e os juízes que decretaram condenações à morte (sem possibilidade de recurso, com o espaço de tempo entre leitura da sentença e execução a ser cada vez mais curto, às vezes apenas de poucas horas), mantiveram-se no sistema judicial e viveram com todas as suas benesses”.
Está aí, quiçá, uma característica toda própria dos juízes, que os filósofos não possuem. HEIDEGGER, com efeito, não passou ileso pelo nazismo, tendo perdido a cátedra e mesmo o prestígio com que então contava na Alemanha. Diversamente, portanto, do que ocorreu com os juízes alemães, que, como diz ORTNER, mantiveram-se no sistema, como se nada tivesse acontecido, como se lhes fosse estranho o nazismo.
Não se pode dizer que se trate de um fenômeno de natureza mais geral, mas não se pode excluir que assim o seja. Um tarefa que, quem sabe, tocará a algum filósofo investigar mais a fundo.