No universo particular em que vivem os operadores do Direito, é comum pensar-se que o Direito e a Economia têm um importante ponto em comum: o de poderem mudar a realidade. Basta, pois, que o Legislador queira mudar o mundo, e pronto, o mundo muda conforme assim o estabeleça a lei. E isso valeria em especial para as leis econômicas, as quais podem assim fazer reduzir a inflação e a taxa dos juros por meio de uma simples penada do Legislador. Daí a justificada predileção dos governantes por se consultarem com os juristas quando querem soluções mirabolantes – que os juristas podem produzir.
Essa mesma percepção, contudo, não é compartilhada pelos economistas, que, felizmente para eles, não vivem em um mundo à parte da realidade. Daí a sensação de impotência que muitas vezes se pode ler em obras escritas por renomados economistas, que, em lugar de trazerem a luz, descrevem a escuridão. É que os economistas apreendem desde cedo que a Economia opera com leis na base das quais atuam tantas variáveis que é impossível dizer de antemão como elas operarão e que resultado podem produzir diante de uma determinada realidade.
Donde se pode concluir que existem duas realidades bastante distintas: a realidade com a qual opera o Direito, e a realidade com a qual a Economia lida. Notem que usamos intencionalmente verbos diferentes: “operar”, no caso do Direito, e “lidar”, no caso da Economia, para demonstrar como uma e outra dessas ciências veem de maneira bastante particular uma mesma realidade. A verdadeira realidade.
Quando o presidente do Banco Central afirma que não lhe cabe senão que esperar o tempo certo para reduzir a taxa de juros, não afiançando de resto que esse momento efetivamente surgirá, surge bastante nítida a diferença como a Economia vê a realidade. E como o Direito a vê: os operadores do Direito, ao contrário, seguem de perto a música escrita por GERALDO VANDRÉ: “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer”.
MARX começou no Direito e terminou na Economia, certamente porque via a realidade como ela é de fato, para o bem e para o mal.