“Para escrever, somos escrupulosos, examinamos tudo de perto, rejeitamos o que não é verdadeiro. Mas na vida, empobrecemo-nos, adoecemos, matando-nos por mentiras. É certo que tais mentiras são a canga donde (se já passou a idade da poesia) podemos extrair ao menos um pouco de verdade. Os desgostos são servos obscuros, detestados, contra os quais lutamos, sob cujo domínio caímos cada vez mais, servos atrozes, insubstituíveis, que por vias subterrâneas nos conduzem à verdade e à morte. Felizes os que deparam a primeira antes da segunda, para quem, embora muito próximas uma da outra, a hora da verdade, soa antes da hora da morte”. (PROUST, O Tempo Redescoberto, Em Busca do Tempo Perdido).