Muitos acusam PROUST de escrever sobre o esnobismo. Seus contemporâneos erigiam esse motivo para depreciar “Em Busca do Tempo Perdido”, que seria simplesmente a história de como os aristocratas franceses levavam frivolamente a vida. PROUST teria consumido infindáveis páginas para descrever algo por si só desinteressante.
Mas quem chega a essa equivocada conclusão não leu todo o livro, ou o leu mal. Vejam o que PROUST escreve em “O Tempo Redescoberto”:
“Um raio oblíquo do poente sugere-me instantaneamente uma época esquecida de minha primeira infância, quando, tia Leôncia tendo adoecido, com uma febre que o Dr. Percepied receava tifóide, mandaram-me passar uma semana no quarto de Eulália, na Praça da Igreja, onde só havia uma esteira no chão e na janela uma cortina de percal, sempre ressoante de um sol a que eu não estava habituado. E vendo como a lembrança desse pobre quarto de antiga empregada acrescentava de repente a minha vida passada um longo trecho, diferente do resto e delicioso, pensei por contraste que nenhuma impressão marcante haviam deixado em minha existência as festas mais suntuosas dos mais principescos palácios (…”).